terça-feira, 11 de abril de 2023

A Alegria da Páscoa (Santo Agostinho)

"Toda a nossa vida presente deve transcorrer no louvor de Deus, porque louvar a Deus será também a alegria eterna da nossa vida futura. Ora, ninguém pode tornar-se apto para a vida futura se, desde já, não se prepara para ela. Agora louvamos a Deus, mas também rogamos a Deus. O nosso louvor está cheio de alegrias, e a nossa oração, de gemidos. Foi-nos prometido algo que ainda não possuímos; porém, por ser feliz quem o prometeu, alegramo-nos na esperança; mas, como ainda não estamos na posse da promessa, gememos de ansiedade. É bom perseverarmos no desejo, até que a promessa se realize; então acabará o gemido e permanecerá somente o louvor.

Assim podemos considerar duas fases da nossa existência: a primeira, que acontece agora no meio das tentações e dificuldades da vida presente; e a segunda, que virá depois na segurança e alegria eterna. Por isso, foram instituídas para nós duas celebrações: a do tempo antes da Páscoa e a do tempo depois da Páscoa.

O tempo antes da Páscoa representa as tribulações que passamos nesta vida. O que celebramos agora, depois da Páscoa, significa a felicidade que alcançamos na vida futura. Portanto, antes da Páscoa celebramos o que estamos a viver; depois da Páscoa celebramos e significamos o que ainda não possuímos. Eis porque passamos o primeiro tempo em jejuns e orações; no segundo, porém, que estamos a celebrar, deixando os jejuns, nos dedicamos ao louvor de Deus. É este o significado do Aleluia que cantamos.

Em Cristo, nossa cabeça, ambos os tempos foram figurados e manifestados. A paixão do Senhor mostra-nos as dificuldades da vida presente, em que é preciso trabalhar, sofrer e por fim morrer. A ressurreição e glorificação do Senhor nos revelam a vida que um dia nos será dada.

Agora, pois, irmãos, vos exortamos a louvar a Deus. É isto o que todos nós exprimimos mutuamente quando cantamos: Aleluia. Louvai o Senhor, dizemos nós uns aos outros. E assim todos põem em prática aquilo a que se exortam mutuamente. Mas louvai-O com todas as vossas forças, isto é, louvai a Deus não só com a língua e a voz, mas também com a vossa consciência, a vossa vida, as vossas ações.

Na verdade, louvamos a Deus agora que nos encontramos reunidos na Igreja. Mas logo ao voltarmos para casa, parece que deixamos de louvar a Deus. Não deixes de viver santamente e louvarás sempre a Deus. Deixas de louvá-Lo quando te afastas da justiça e do que Lhe agrada. Mas, se nunca te desviares do bom caminho, ainda que tua língua se cale, tua vida clamará; e o ouvido de Deus estará perto do teu coração. Porque assim como nossos ouvidos escutam nossas palavras, assim os ouvidos de Deus escutam nossos pensamentos."

(Dos Comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo– Ps. 148, 1-2, Séc. V)

sábado, 4 de junho de 2022

Pedro e João, da ação à contemplação!


A Igreja tem duas vidas preconizadas e recomendadas por Deus. Uma é na fé, a outra na visão; uma na peregrinação no tempo, a outra na morada da eternidade; uma no trabalho, a outra na quietude; uma no caminho, a outra na pátria; uma no esforço da ação, a outra na recompensa da contemplação. [...] A primeira é representada pelo apóstolo Pedro, a segunda por João. A primeira decorre inteiramente na Terra até ao fim do mundo, e depois acaba. A segunda só encontrará a sua plenitude depois do fim do mundo, e não terá fim no mundo que há de vir.
Foi por isso que Jesus disse a Pedro: «Segue-Me», e sobre João: «Se Eu quiser que ele fique até que Eu venha, que te importa? Tu, segue-Me». [...] Que a tua ação Me siga, perfeita e modelada no exemplo da minha Paixão; que a contemplação começada permaneça até Eu voltar, e torná-la-ei perfeita quando voltar. Porque este fervor vigoroso que se mantém firme até à morte segue a Cristo; e este conhecimento que então será revelado em plenitude permanece até ao regresso de Cristo. Aqui na Terra dos mortais, temos de suportar os males deste mundo; lá, contemplaremos os bens do Senhor na terra dos vivos (Sl 26,13). [...]
Portanto, que ninguém separe estes dois gloriosos apóstolos; porque ambos foram o que Pedro simboliza e ambos serão o que João representa.

Santo Agostinho (354-430)

Sermões sobre o Evangelho de João


sábado, 12 de junho de 2021

Senhor! Mais uma manhã está a começar e há tanto para fazer!
Eu hoje mais que nunca quero sentir a força do Teu Amor, a  força da Tua Paz!
Quero entregar nas tuas mãos aquilo que vai ser o meu dia! 
Quero entregar-Te a minha vida, o que sou e o que Te quero dar nos meus irmãos.
Vem, Senhor, ilumina-me, dá-me força para caminhar, peço-Te que me ajudes a ser feliz, dando-me aos outros, entregando-me ao serviço da construção do Teu Reino.
Quero hoje ser tua testemunha, ser a testemunha da Tua Paz!
Dá-me serenidade para ir vivendo o dia-a-dia, procurando ser esse facho ardente do Teu Amor que me convidas a ser.
Dá-me um rosto de paz para tranquilizar os meus irmãos que andam tristes e abatidos.
Dá-me um pouco de tranquilidade para acalmar as tempestades que andam à minha volta.
Dá-me força para trabalhar para um mundo melhor, onde reine a paz, o amor e a concórdia entre os irmãos.
Faz-me ser voz ecoante do teu Reino, denunciando as injustiças e defendendo os mais desprotegidos e débeis.
Peço-te que sejas o meu Guia, o Guia que me ajuda a enfrentar os caminhos tortuosos da vida, fazendo-me chegar á verdadeira felicidade que és Tu, que é o Teu Amor.
Ajuda-me a perdoar e a saber pedir perdão.
Ajuda-me a ser justo e a  pedir  justiça.
Ajuda-me a ser paz e a construir a Tua Paz.
Ajuda-me a ser luz e a saber pedir a Tua Luz.
Vem, Senhor, fica comigo, porque eu anseio estar continuamente Contigo!
Amén.

sábado, 17 de abril de 2021

Tu és, Senhor, a nossa força!

Quando eclode a tempestade,
Tu és, Senhor, a nossa força.
Nós Te louvaremos, Deus forte,
nosso constante socorro.
Contigo aguentamos firmes,
em Ti pondo a nossa confiança,
Ainda que a Terra seja abalada,
e o mar se encapele.
Ainda que as ondas se enrolem e desenrolem,
ainda que as montanhas vacilem,
a alegria há de iluminar-nos,
a cidade de Deus dá-Te graças.
Tens nela a tua morada,
e preservas a sua santa paz.
Um rio poderoso protege
a sublime morada de Deus.
Sublevam-se em loucura as multidões,
colapsa o poder dos Estados.
Eis que Ele levanta a voz,
a Terra brame, sacudida.
Mas o Senhor está connosco,
o Senhor, o Deus Sabaoth.
Tu és para nós luz e salvação,
contigo, jamais experimentaremos o medo.
Vinde todos, vinde contemplar
os prodígios do seu poder:
todas as guerras se extinguem,
a corda do arco desentesa.
Lançai para o braseiro de fogo
escudo e arma de guerra.
O Senhor, o Deus Sabaoth,
socorre-nos na tribulação.

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) (1891-1942)

Poesia «Salmo 45», 28/04/1936; paráfrase do salmo 45/46



sábado, 5 de setembro de 2020

Vinde a Mim... o vosso coração descansará tranquilo!

Vinde a Mim,
vós que andais esquecidos,
da minha presença e cuidado
sobre as vossas vidas.
 
Vinde a Mim,
na vossa solidão e dor
e encontrareis alento
para prosseguir.
 
Vinde a Mim,
vós que deixastes o fogo apagar
e pareceis inertes
com o frio da vida,
e eu vos acalentarei.
 
Vinde a Mim,
vós que andais em espessa noite,
temendo o amanhecer,
e encontrareis
um luz sem ocaso.
 
Vinde a Mim,
todos os que andais
afadigados e cansados,
famintos de paz
e de felicidade duradoura.
 
Vinde a Mim
e o vosso coração
descansará tranquilo.
 
Irmã Maria Amélia Costa (CONFHIC)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

As três palavras que definem as pessoas: com licença, obrigado e perdão!

"Só quem teve de pedir perdão, pelo menos uma vez, é que é capaz de o dar. Para mim há três palavras que definem as pessoas e constituem um compêndio de virtudes - diga-se de passagem que não sei se eu as tenho - e que são: com licença, obrigado e perdão. A pessoa que não sabe pedir licença atropela, vai em frente com a sua, sem se importar com os outros, como se os outros não existissem. Em contrapartida, quem pede licença é mais humilde, mais sociável, mais integrador.
O que dizer de quem nunca diz «obrigado» ou sente no seu coração que nada tem a agradecer seja a quem for? Existe um refrão espanhol que é bem eloquente: «O bem-nascido é agradecido.» A gratidão é uma flor que nasce em almas nobres.
E, finalmente, há pessoas que acham que não têm de pedir perdão por nada. Estas são vítimas do pior dos pecados: a soberba. E insisto: só quem teve a necessidade de pedir perdão e teve a experiência do perdão é que consegue perdoar. Por isso, aos que não dizem estas três palavras falta-lhes algo na sua existência. Foram podados antes de tempo, ou mal podados pela vida."

Papa Francisco, in 'Conversas com Jorge Bergoglio'


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Ele, o nosso Pai, senta-Se num trono de grande valor, que é vosso coração!

Imaginemos que há em nós um palácio de imensa riqueza, todo construído em ouro e pedras preciosas, digno do Senhor a quem pertence. Em seguida, pensai, minhas irmãs, que a beleza deste edifício também depende de vós. É verdade, pois haverá edifício mais belo do que uma alma pura e cheia de virtudes? E quanto maiores forem, mais resplandecem as pedrarias. Por fim, pensai que neste palácio habita este grande Rei que quis tornar-Se nosso Pai; Ele senta-Se num trono de grande valor, que é o vosso coração. [...]
Podereis rir-vos de mim e dizer que isto é muito claro. Tendes razão, mas foi obscuro para mim durante um certo tempo. Eu compreendia que tinha alma, mas a estima que esta alma merecia, a dignidade daquele que a habitava era algo que eu não compreendia. As vaidades da vida eram uma venda que colocava sobre os olhos. Se tivesse percebido, como percebo hoje, que naquele pequeno palácio da minha alma habita um Rei tão grande, não O teria deixado só tantas vezes; de tempos a tempos, teria ido para junto dele e teria feito o necessário para que o palácio estivesse menos sujo. Como é admirável pensar que Aquele cuja grandeza encheria mil mundos, e muito mais, cabe em morada tão pequena!

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita descalça, doutora da Igreja 
                                                                              «O Caminho da perfeição», cap. 28, 9-11