quinta-feira, 24 de maio de 2018

"Deus ama porque é Amor"

"Deus não ama ninguém por ele ser bom, por ser bonito ou por ser agradável, ou por apresentar uma folha de serviços impecável. Deus não tem razões fora dele próprio, para amar. O seu amor não é motivado por razões que lhe venham de fora. Ama porque é Amor.

Assim também não há razões que O desmotivem. Uma razão, que poderia desmotivá-lo, se emprestássemos a Deus os nossos pequenos critérios, seria o pecado. A ofensa, neste caso, o pecado, não O desmotiva; muito pelo contrário, centra, de tal maneira, no pecador e em todos os outros, as suas razões para agir que, esquecido de si, entra no mundo do pecado, dá a vida pelos que pecam e pede perdão para os que O matam."

                                                                                                                     Luís Rocha e Melo, SJ


quinta-feira, 10 de maio de 2018

Mãe, dirige-nos o teu olhar!

Maria, hoje queremos dizer-te:
Mãe, dirige-nos o teu olhar!
O teu olhar leva-nos para Deus,
o teu olhar é uma dádiva do Pai bom,
que nos espera em cada encruzilhada do nosso caminho,
é um dom de Jesus Cristo na Cruz,
que carrega sobre os ombros os nossos sofrimentos,
as nossas dificuldades, o nosso pecado.
Mãe, dirige-nos o teu olhar! Ámen.


Papa Francisco no Santuário de Nossa Senhora da Bonária,
Cagliari, 22 de setembro de 2013

terça-feira, 1 de maio de 2018

«Aprendo a rezar com os pés».

Caminham em filas ao lado das estradas nacionais, por trilhos de terra batida, atravessando pequenos povoados que antes desconheciam, cruzando horas e horas a paisagem de giestas e silêncio.
Têm em português um nome que deriva de uma forma latina: Per ager, que significa “através dos campos”; ou Per eger, “para lá das fronteiras”. Definem-se, assim, por uma extraterritorialidade simbólica que os faz, momentaneamente, viver sem cidade e sem morada. Experimentam uma espécie de nomadismo: não se demoram em parte alguma, comem ao sabor da própria jornada, dormem aqui e ali. Num tempo ferozmente cioso da produção e do consumo, eles são um elogio da frugalidade e do dom. Relativizam a prisão de comodismos, necessidades, fatalismos e desculpas. E o seu coração abre-se à revelação de um sentido maior.
A verdade é que é difícil ter uma vida interior de qualidade, se nem vida se tem, no atropelo de um quotidiano que devora tudo. Na saturação das imagens que nos são impostas, vamos perdendo a capacidade de ver. No excesso de informação e de palavra, esquecemos a arte de ouvir e comunicar vida. Damos por nós, e há, à nossa volta, um deserto sem resposta que cresce. E quando nos voltamos para Deus, parece que não sabemos rezar.
Estes peregrinos que tornam a encher as estradas de Fátima (mas também de Santiago, de Chartres, do Loreto…) assinalam-nos o dever de buscar a estrada luminosa da própria vida. Já não separam a existência por gavetas estanques, mas o seu corpo e a sua alma respiram em uníssono. A oração torna-se natural como uma conversa, e as conversas enchem-se de profundidade, de atenção, de sorrisos. A parte mais importante dos quilómetros que percorrem não está em nenhum mapa: eles caminham para um centro invisível onde pode acontecer o encontro e o renascimento.
Queria dedicar este texto a um amigo que, neste mês de Maio, fez a sua primeira peregrinação. A meio do caminho enviou-me uma mensagem a dizer: «Aprendo a rezar com os pés».

Padre João Tolentino Mendonça