Não possuímos as
virtudes, não por ser difícil, mas porque não queremos.
Não temos paciência
porque não queremos.
Não temos temperança
porque não queremos.
Não temos castidade pela mesma razão.
Se quiséssemos, seríamos
santos, e é muito mais difícil ser engenheiro do que ser santo.
Se tivéssemos fé! […]
Vida interior, vida
espiritual, vida de oração: meu Deus, que difícil que isso deve ser!
De modo nenhum. Afasta
do teu coração o que o perturba, e encontrarás Deus.
Com isso, o trabalho
está feito. Muitas vezes buscamos o que não existe e, pelo contrário, passamos
ao lado de um tesouro que não vemos. É a mesma coisa com Deus, a quem
procuramos […] num emaranhado de coisas, que quanto mais complicado, melhor nos
parece.
No entanto, levamos Deus dentro de nós, e não O procuramos aí!
Recolhe-te dentro de ti mesmo; olha para o teu nada; olha para o nada do mundo;
põe-te ao pé de uma cruz e, se fores simples, verás Deus. […]
Se Deus não está na
nossa alma, é porque não queremos. Temos uma tal acumulação de cuidados, de
distracções, de tendências, de desejos, de vaidades, de presunções, temos
tantas pessoas dentro nós, que Deus Se afasta. Assim que o quisermos, Deus
enche-nos a alma de tal modo, que é preciso sermos cegos para não O vermos.
Uma alma quer viver de
acordo com Deus? Afaste tudo o que não é Ele, e está feito. É relativamente
fácil.
Se o quiséssemos, se o
pedíssemos a Deus com simplicidade, faríamos um grande progresso na vida
espiritual. Se quiséssemos, seríamos santos, mas somos tão tolos que não
queremos; preferimos perder tempo em vaidades estúpidas.
São Rafael Arnaiz Barón
(1911-1938), monge trapista espanhol
Escritos espirituais,
25/01/1937