«Um dia, Teófilo, bispo de Alexandria, foi a um mosteiro do
deserto. Os monges celebraram-no e todos tiveram algo a dizer-lhe.
Somente o Abbá Pambone ficou em silêncio. Então os irmãos
disseram-lhe: "Vem, diz alguma coisa ao nosso pastor para que a sua
alma possa apreciá-la!". Pambone respondeu: "Se o meu silêncio não lhe
diz nada, nem mesmo as palavras podem ajudá-lo".»
Sobre o ficar calado há dois provérbios opostos. Um afirma que
«quem cala consente» e o outro declara que «quem cala não diz nada».
Ambos contêm uma alma de verdade porque o silêncio é pela sua natureza
ambíguo: muitas vezes é apenas taciturnidade indiferente ou desprovido
de pensamentos, inércia mental e moral.
No entanto, também sabemos que há silêncios que são mais
eloquentes do de uma palavra gritada. É isto que se quer sublinhar num
dos muitos apólogos (de variadas recolhas) dos chamados "Padres do
deserto" egípcios. Para colher a mensagem de um homem autenticamente
silencioso, para intuir a sua censura, é preciso ser-se capaz de
silêncio.
Aquele bispo deixava-se seduzir pelas aclamações dos monges,
pelas suas palavras corteses e talvez pelas adulações. Abbá (ou seja,
"pai" e mestre) Pambone não se junta ao coro e imediatamente – querendo
ou não querendo – aquele silêncio torna-se mais forte do que o
falatório.
Há, portanto, que aprender também o verdadeiro calar, longe de
ser fácil quando se quer fazer notar pelos outros, especialmente os
poderosos de plantão. O salmista faz este propósito: «Vigiarei sobre a
minha conduta para não pecar com a minha língua; colocarei um freio na
minha boca!» (39, 2). Um exercício importante mas difícil, porque «os
homens – dizia o filósofo Espinoza – não governam nada com maior
dificuldade do que a língua».
P. (Card.) Gianfranco Ravasi in "Avvenire"
Tradução do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
Tradução do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
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