segunda-feira, 30 de maio de 2016

Maria: Mulher da escuta, da decisão e da acção!

Hoje celebramos a festa da Visitação da Bem-Aventurada Virgem Maria à sua parente Isabel. Gostaria de meditar convosco este mistério que indica como Maria enfrenta o caminho da sua vida com grande realismo, humanidade e consistência.

Três palavras resumem a atitude de Maria: escuta, decisão e acção; escuta, decisão e acção. Palavras que indicam um caminho também para nós diante daquilo que o Senhor nos pede na vida. Escuta, decisão e acção.

Escuta. De onde nasce o gesto de Maria, de ir visitar a sua parente Isabel? De uma palavra do Anjo de Deus: «Também Isabel, tua parente, concebeu um filho na sua velhice...» (Lc 1, 36). Maria sabe ouvir a Deus. Atenção: não se trata de um simples «escutar», um ouvir superficial, mas é uma «escuta» feita de atenção, de acolhimento e de disponibilidade a Deus. Não é o modo distraído com que às vezes nos pomos diante do Senhor ou perante os outros: escutamos as palavras, mas não ouvimos verdadeiramente. Maria está atenta a Deus, ouve Deus.
Mas Maria ouve também os acontecimentos, ou seja, lê os eventos da sua vida, está atenta à realidade concreta e não se limita à superfície, mas vai às profundezas, para compreender o seu significado. A parente Isabel, que já é idosa, está grávida: este é o acontecimento. Mas Maria está atenta ao significado, sabe compreendê-lo: «A Deus nada é impossível» (Lc 1, 37).
Isto é válido também na nossa vida: escuta de Deus que nos fala, e escuta também da realidade quotidiana, atenção às pessoas, aos acontecimentos, porque o Senhor está à porta da nossa vida e bate de muitos modos, lançando sinais ao longo do nosso caminho; dá-nos a capacidade de os ver. Maria é a Mãe da escuta, da escuta atenta de Deus e da escuta igualmente atenta dos acontecimentos da vida.

A segunda palavra: decisão. Maria não vive «apressada», ansiosamente, mas, como são Lucas ressalta, «ponderava tudo no seu coração» (cf. Lc 2, 19.51). E também no momento decisivo da Anunciação do Anjo, Ela pergunta: «Come acontecerá isto?» (Lc 1, 34). Mas não se detém nem sequer no momento da reflexão; dá um passo em frente: decide. Não vive apressadamente, mas só quando é necessário «vai à pressa». Maria não se deixa levar pelos acontecimentos, não evita o cansaço da decisão. E isto acontece tanto na escolha fundamental que mudará a sua vida: «Eis a serva do Senhor…» (cf. Lc 1, 38), como nas opções mais quotidianas, mas também elas ricas de significado. Vem ao meu pensamento o episódio das bodas de Caná (cf. Jo 2, 1-11): também aqui se vê o realismo, a humanidade e a consistência de Maria, que permanece atenta aos acontecimentos e aos problemas; Ela vê e compreende a dificuldade daqueles dois jovens esposos aos quais vem a faltar o vinho da festa, medita e sabe que Jesus pode fazer algo, e assim decide dirigir-se ao Filho para que intervenha: «Eles já não têm vinho» (Jo 2, 3). Decide.
Na vida é difícil tomar decisões, e muitas vezes tendemos a adiar, a deixar que outras pessoas decidam por nós, frequentemente preferimos deixar-nos levar pelos acontecimentos, seguir a moda do momento; às vezes sabemos o que devemos levar a cabo, mas não temos a coragem de o fazer, ou parece-nos demasiado difícil porque significa ir contra a corrente. Na Anunciação, na Visitação e nas bodas de Caná Maria vai contra a corrente; Maria vai contra a corrente; põe-se à escuta de Deus, medita, procura compreender a realidade e decide confiar-se totalmente a Deus, e embora esteja grávida decide ir visitar a sua parente idosa, decide confiar-se ao Filho com insistência para salvar a alegria das bodas.

A terceira palavra: acção. Maria pôs-se a caminho «apressadamente…» (cf. Lc 1, 39). No domingo passado sublinhei este modo de agir de Maria: não obstante as dificuldades, as críticas que terá recebido devido à sua decisão de partir, não se detém diante de nada. E assim vai «depressa». Na oração diante de Deus que fala, ponderando e meditando sobre os acontecimentos da sua vida, Maria não tem pressa, não se deixa levar pelo momento, não se deixa arrastar pelos eventos. Mas quando compreende claramente o que Deus lhe pede, o que deve levar a cabo, não hesita, não se atrasa, mas vai «depressa». Santo Ambrósio comenta: «A graça do Espírito Santo não permite demoras» (Expos. Evang. sec. Lucam, II, 19: PL 15, 1560). O agir de Maria é uma consequência da sua obediência às palavras do Anjo, mas unida à caridade: vai visitar Isabel para lhe ser útil; e neste gesto de sair da sua casa, de si mesma por amor, leva consigo aquilo que possui de mais precioso: Jesus; leva o Filho.
Às vezes, também nós nos limitamos à escuta, à reflexão sobre aquilo que deveríamos levar a cabo, e talvez compreendamos claramente a decisão que devemos tomar, mas não realizamos a passagem para a acção. E sobretudo não nos pomos em jogo a nós mesmos, movendo-nos «depressa» rumo aos outros para lhes prestar a nossa ajuda, a nossa compreensão e a nossa caridade; para levar também nós, a exemplo de Maria, aquilo que possuímos de mais precioso e que recebemos, Jesus e o seu Evangelho, com a palavra e sobretudo com o testemunho concreto do nosso agir.


Maria, Mulher da escuta, abre os nossos ouvidos; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus, no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade.

Maria, Mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração, a fim de que saibamos obedecer à Palavra do teu Filho Jesus, sem hesitações; concede-nos a coragem da decisão, de não nos deixarmos arrastar para que outros orientem a nossa vida.

Maria, Mulher da acção, faz com que as nossas mãos e os nossos pés se movam «apressadamente» rumo aos outros, para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus, para levar ao mundo, como tu, a luz do Evangelho. Amém!

(Papa Francisco, 31 de Maio de 2013) 



sábado, 28 de maio de 2016

Luz terna, suave, leva-me mais longe...

Que importa se é tão longe, para mim,
A praia aonde tenho de chegar,
Se sobre mim levar constantemente
Poisada a clara luz do teu olhar?

Nem sempre Te pedi como hoje peço
Para seres a luz que me ilumina;
Mas sei que ao fim terei abrigo e acesso
Na plenitude da tua luz divina.

Esquece os meus passos mal andados,
Meu desamor perdoa e meu pecado.
Eu sei que vai raiar a madrugada
E não me deixarás abandonado.

Se Tu me dás a mão, não terei medo,
Meus passos serão firmes no andar.
Luz terna, suave, leva-me mais longe:
Basta-me um passo para a Ti chegar.
 







(Hino de Completas da Liturgia das Horas)

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Hoje celebramos a a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, mais conhecida como o Dia de Corpo de Deus. 
"Celebrar a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é celebrar o nascimento da Igreja, pois é evidente que o mandado de Jesus «fazei isto isto em memória de Mim» origina a celebração da Eucaristia, em que se recebe o seu corpo e sangue, alimento e vida da Igreja, e factor de união da assembleia celebrante...
A pessoa de Jesus, recebida por meio da fé, é o meio pelo qual nos é dada e conservada a vida eterna. É esse Jesus, feito «pão da vida», que continuamos a procurar, nos caminhos e em cada manhã da nossa vida; como fez o povo de Deus, que recolheu, em cada amanhecer no deserto, o maná caído do céu."  

(da revista "liturgiadiária - a missa de cada dia")


Aqui fica uma oração de Santo Inácio de Loyola (séc. XVI) que se reza habitualmente diante do Santíssimo Sacramento presente no Pão da Eucaristia: 

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro das Vossas Chagas, escondei-me.
Não permitais que de Vós me separe.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós,
para que Vos louve com os Vossos Santos,
por todos os séculos. Amen.




quarta-feira, 25 de maio de 2016

"Para ver Deus não preciso de subir ás alturas; levo-O dentro de mim"

Quando o astronauta russo Yuri Gagarin foi interrogado sobre se tinha visto Deus lá nas alturas, respondeu: "Não o vi; Deus não existe". Algum tempo depois, também subiu à estratosfera Gordon Cooper; quando lhe fizeram a mesma pergunta, replicou: "Para ver Deus não preciso de subir ás alturas; levo-O dentro de mim". Quantos pretendem encontrar Deus longe de si mesmos, quando O têm tão perto! Deus sorri, no jogo da criança; Deus geme, no sofrimento do doente; Deus sofre, na miséria do que não tem pão; Deus morre, no menino desnutrido; Deus foge, no homem perseguido; Deus estende a mão, no mendigo; Deus clama, no cartaz a pedir justiça para o operário explorado. Deus está em toda a parte e em todos. Não é preciso ir muito longe para O encontrar. Basta que abramos os olhos para poder vê-Lo. Que triste seria, passar a Seu lado sem O reconhecer!

"A Sagrada Escritura ensina que o homem foi criado à imagem de Deus, capaz de conhecer e amar o seu Criador, e por este constituído senhor de todas as criaturas terrenas, para as dominar e delas se servir, dando glória a Deus" (GS, 12). O nosso erro está em querermos ver Deus longe de nós próprios, ou em coisas e acontecimentos especiais e longínquos. Esforcemo-nos por vê-lO naquilo que todos os dias nos acontece. 

(Alfonso Milagro no livro "Os cinco minutos de Deus")

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Deus só pode dar o Seu Amor...

Na terra há muitas formas de violência física, como a guerra, a tortura, o homicídio... 
Também há outras formas de violência, mais subtis, que se dissimulam em manobras engenhosas, na suspeita, na desconfiança, na humilhação, numa promessa não cumprida... 
E há todas essas crianças e jovens feridos por rupturas afectivas, marcados por abandonos humanos, a tal ponto que alguns perguntam: será que a minha vida ainda tem sentido? 
Face às violências físicas e morais presentes na família humana, surge uma interrogação séria: se Deus é amor, de onde vem o mal? 
Ninguém pode explicar o porquê do mal. 
O filósofo Paul Ricoeur escreve: «Não posso responder nada àqueles que dizem:"Há demasiado mal no mundo para que eu possa acreditar em Deus." O único poder de Deus é o amor desarmado. Deus não quer o nosso sofrimento. De todo-poderoso, Deus torna-se "todo-amoroso". Deus não tem nenhum outro poder para além de amar e de nos dirigir, quando sofremos, uma palavra de auxílio. O que é difícil para nós é poder ouvi-la.»
Seis séculos depois de Cristo, um cristão, Santo Isaac de Nínive, retomava as palavras de São João «Deus é amor» e concluía: «Deus só pode dar o seu amor.»
Deus nunca assiste passivamente à aflição dos seres humanos. Ele sofre com o inocente, vítima de incompreensíveis provações. Deus sofre com cada pessoa. Deus vive a experiência da dor, o sofrimento de Cristo. 
No Evangelho, Cristo torna-se solidário com o sofrimento; chora a morte de quem ama. 
Será que Cristo não veio à terra para que todo o ser humano saiba que é amado? 
E eis que o nosso coração pode maravilhar-se diante do amor. 

(Irmão Roger, de Taizé no livro "Deus só pode Amar") 



domingo, 22 de maio de 2016

Senhor, faz de mim um instrumenta da Tua Paz!

Senhor,
Faz de mim um instrumento da Tua Paz.
Onde houver ódio, que eu leve o Amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o Perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a União;
Onde houver dúvida, que eu leve a Fé;
Onde houver erro, que eu leve a Verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a Esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a Alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a Luz.                                    
Ó Mestre, 
São Francisco de Assis
fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado;
mais compreender do que ser compreendido;
amar do que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se vive para a Vida Eterna.

Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo

Santíssima Trindade de Rublev
Celebramos o Domingo da Santíssima Trindade.
Queremos contemplar a Deus como uno na diversidade de três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Esta festa não é essencialmente um convite a decifrar ou interpretar o “mistério” que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”, mas deverá ser uma oportunidade para contemplar o nosso Deus, que é Amor, que é Família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de Amor que é ELE próprio.
Não é fácil falar de Deus… pela grandeza que Ele tem e pela nossa pequenez! Deus permanecerá sempre como mistério impossível para nós de abarcar, interpretar na totalidade! Jamais poderemos interpretar toda a densidade e profundidade deste mistério que é Deus uno e trino; no entanto, podemos e deveremos, procurar crescer no seu conhecimento. Só conheceremos e entenderemos Deus na medida em que pessoalmente o quisermos levar para o nosso dia-a-dia.
Celebrar a Santíssima Trindade é querer descobrir que o nosso Deus é uma comunhão de Amor. 

Santo Agostinho e o Menino. Óleo de Juan Barba
Partilho uma das histórias de Santo Agostinho. 
Conta-se que Santo Agostinho andava certo dia a passear na praia a meditar sobre este mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas… Enquanto caminhava, observou um menino que carregava um pequeníssimo balde com água. A criança ia até o mar, trazia a água e deitava-a dentro de um pequeno buraco que havia feito. Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia. O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -”quero colocar a água do mar neste buraco”. Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe: -”mas tu não percebes que isso é impossível mesmo que trabalhes toda a vida? O mar é infinitamente grande. Jamais o irás conseguir colocar aí todo dentro desse pequeno buraco…”. Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe: “ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!”. É mais fácil colocar toda a água do mar aqui dentro deste buraco que o homem conseguir entender o mistério da Santíssima Trindade.

O homem é infinitamente pequeno e Deus é infinitamente grande! 

(Pe. Aloísio Araújo - www.rezaravida.com)

sábado, 21 de maio de 2016

"Nada te perturbe... Só Deus basta!"

Nada te perturbe, nada te espante,
Tudo passa, Deus não muda,
A paciência tudo alcança,
Quem a Deus tem, nada lhe falta:
Só Deus basta.
Eleva o pensamento, ao céu sobe,
Por nada te angusties, dada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, com grande entrega,
E, venha o que vier, nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã;
Nada tem de estável, tudo passa.
Deseje às coisas celestes, 
que sempre duram;
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.
Ama-o como merece, bondade Imensa;
Confiança e fé viva, mantenha a alma,
Que quem crê espera, tudo alcança.
A maldade, a injustiça,
O abandono, não ameaçará,
Quem a Deus tem,
Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, nada lhe falta.
Ainda que tudo perca, Só Deus basta.
(Santa Teresa de Jesus)