segunda-feira, 26 de setembro de 2016

"O nosso Pai"

Como é que nos podemos dirigir a Deus? A primeira oração vem-nos de Jesus.
Quando os seus discípulos lhe perguntaram como rezar, Ele não inventou uma longa litania, mas palavras muito simples, dirigidas a um Pai, o nosso Pai. É muito curto! Apenas cinco frases... Como nós somos ridículos com os nossos longos discursos! O Pai-nosso apresenta-nos o essencial. Cabe-nos a nós retomá-lo, voltar a ele, rezá-lo sem parar para que «seja feita a vossa vontade!»
Haveria muito a dizer sobre esta oração que Jesus nos deu... O que é espantoso é que Ele nos convida a rezar em conjunto: nós dirigimo-nos ao «Pai nosso», não é apenas uma relação pessoal entre Deus e eu. Eu gosto desta expressão colectiva que nos associa esta oração. E a passagem mais longa da oração fala-nos do perdão: «Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.» Nós não podemos fazer a economia do perdão. Jesus inscreveu-a no próprio coração da oração que nos deixou. Porque o perdão é fonte de cura. Sem o perdão somos corroídos, destruídos interiormente. É prodigioso perdoar ou receber o perdão.
Rembrant exprime-o vigorosamente no último quadro que pintou: O regresso do filho pródigo. 
O perdão transforma-nos, cura-nos a partir do interior, revigora-nos. É difícil... O perdão leva tempo, mas chegamos lá! Não tenhamos medo de pedir ao Senhor a sua ajuda para perdoar: é Ele quem pode impelir-nos a este gesto louco que reaviva a nossa alma e o nosso ser. 
E isto começa connosco mesmos. O perdão não é uma desculpa ou uma fraqueza: é reconhecermo-nos tal como somos, despojarmo-nos de todos os artifícios e apresentarmo-nos perante Deus. O perdão vai reconciliar-nos connosco mesmos e devolver-nos a nossa capacidade de amar. Pois amar o outro começa por nos amarmos a nós mesmos! É o mandamento que Jesus nos deixou. Ora, há tantas pessoas que não se amam... Porquê, então? Como é que chegaram a isso? Uma esperança defraudada é suficiente, por vezes, para os ferir terrivelmente.... 
É terrível ter de enfrentar o sofrimento sozinho... Aquele que não se ama como é que pode amar os outros? No entanto, todos recebemos dons. 
As pessoas desconhecem, muito frequentemente, que são dotadas. Ora, o homem é um ser formidável: cada um deve detectar os seus próprios talentos, revelá-los, para ouvir esta palavra que Deus confiou a Isaías: «Visto que és precioso aos meus olhos, que te estimo e te amo». 


(do livro "O Amor tem um rosto" - Michael Lonsdale) 



Sem comentários:

Enviar um comentário