sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

... sei que Deus só pode nascer em mim no silêncio.

... o silêncio não é apenas necessário durante o Advento, também o é no Natal. 
Para mim, celebrar a noite da Natividade implica que, após a celebração em comum, eu consagre três horas a meditar em solidão, escutando uma parte do Oratório do Natal e prestando atenção ao silêncio. Pois sei que Deus só pode nascer em mim no silêncio.
No segundo domingo depois do Natal, cantamos no início da missa um trecho do Livro da Sabedoria: “No instante em que um silêncio reconfortante envolvia todas as coisas e em que a noite chegava ao meio da sua apressada caminhada do alto dos céus, a Palavra toda-poderosa desceu do trono real” (Sabedoria, 18, 14-15). 
Deus só descerá ao meu coração quando nele se tiverem instalado o silêncio e a tranquilidade. É no seio do mais profundo silêncio e quando a palavra humana se tiver calado, que se dará o nascimento de Deus. Calando-me, não posso obrigar Deus a vir até mim; mas o silêncio é condição necessária para que me aperceba da sua presença em mim. Ao fazer silêncio, desço às minhas profundezas, e o caminho que me leva até lá passa pela obscuridade da minha noite, pela noite da minha angústia e da minha solidão. É então que deixo para trás o trono da realeza onde permaneço seguro de mim, e de onde determino e conduzo a minha vida. É então que mergulho até ao fundo da minha alma. Porque só aí Deus pode nascer em mim; é apenas nas profundezas do meu coração, onde já nenhum ruído exterior penetra, que Deus deseja tornar-se homem em mim.
Anselm Grün

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Podes vir, Senhor!... por Ti, mudam as cores da vida!

Para Te acolher,
para preparar a nossa terra,
para crer em Ti,
nosso grande Senhor,
não há nada de extraordinário a fazer!
Basta ter um coração límpido e sem disfarce.
basta ter um olhar doce e sem malícia.
Basta colocar nos lábios o sorriso e a alegria.
Basta abrir as mãos para dar e repartir.
Basta ser atencioso e fiel à Tua Palavra.
Basta amar, sem medir a ternura.
Basta ouvir o teu apelo e mudar de vida, Senhor!
Podes vir, Senhor!
A terra e os seus habitantes,
por Ti, mudam as cores da vida. 

(Canção Nova)  


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

«O que tem sede aproxime-se…» (Ap. 22,17)

É certo que não bebemos unicamente para apagar a sede ou para restabelecer um défice de hidratação. Em muitas ocasiões bebemos ad libitum, isto é, por prazer; porque nos sabe bem mesmo que se trate de um despretensioso copo de água fresca; bebemos por estarmos à mesa da refeição, por nos encontrarmos em companhia e a conviver; porque está calor ou está frio e precisamos não apenas de ingerir líquidos, mas de experimentar aconchego. Tal como a nossa fome não é só de pão, também a nossa sede não é só de água. Dá muito que pensar, por exemplo, o significado antropológico da mesa, que tem um papel tão central na construção das nossas humanidades e é realmente, na diversidade das suas formas, medidas e feitios, um objeto transcultural. Nem por acaso, Jesus colocou a mesa no centro da celebração da fé cristã. Porque é que existe a mesa? Porque é que nos sentamos à mesa uns com os outros para tomar a refeição? Não será apenas por razões materiais ou económicas, mas sobretudo por razões de vida. Sentamo-nos juntos em torno do alimento, porque nos alimentamos não só da comida, mas uns dos outros. Temos uma verdadeira necessidade da presença, da hospitalidade, da palavra, do cuidado e do afeto dos outros. À volta da mesa reconhecemo-nos melhor, alimentamo-nos mutuamente com alimento invisível: o da relação. Tenho uma amiga escritora que vive sozinha, muito limitada por problemas de saúde, e que me confessou o seguinte: «A mesa da minha cozinha tem apenas uma cadeira, pois como sempre sozinha. Mas quando me sento para comer repito sempre no meu coração que comer é um ato comunitário, e isso liga-me aos meus semelhantes e conforta-me.» O que se diz do comer também é válido para o beber. Jesus, que na ciência da sede é também o Mestre, garantiu: «Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa.» (Mateus 10:42). Jesus sabe que um simples copo de água que damos ou recebemos não é banal, não é apenas isso. Esse gesto dialoga com dimensões profundas da existência, porque vai ao encontro daquela sede que está presente em todo o ser humano, que é a sede de relação, de aceitação e de amor. De facto, trazemos em nós muitas sedes. Não as desprezemos como se não fossem matéria existencial e espiritual que merecesse a nossa atenção. Não fujamos delas como se não tivessem nada de Deus para revelar-nos. Pelo contrário. Gastemos tempo a rezá-las. A sede é um património biográfico que somos chamados a reconhecer e a agradecer. Ela vem connosco desde a infância, acompanha os nossos anos de formação, irrompe de forma diversa a vida adulta, amadurece ao mesmo tempo que nós, envelhece, muda de nome e de sentido e persiste. A sede é a roda do oleiro onde Deus nos molda, é o interior das mãos amorosas de Deus buscando esperançosamente formas novas para dizer a vida, é a pele de Deus tocando o vaso que somos. Talvez ainda não tenhamos conseguido agradecer a Deus a nossa sede, o bem, o caminho, as fontes que através dela Deus tem feito chegar à nossa vida. Coloquemos em Deus a nossa sede.

(in “Elogio da Sede” – D. José Tolentino Mendonça)

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Quem és Tu, doce Luz?

Quem és Tu, doce luz que me inundas
e iluminas a escuridão do meu coração? 
Tu que me conduzes pela mão como uma mãe 
e, se me largares, não conseguirei dar mais um passo, 
Tu és o espaço que envolve o meu ser e o guarda em si, 
Abandonado por Ti, tombaria no abismo do nada
de onde me tiras para me elevar até à luz. 
Tu, mais próximo de mim que eu de mim próprio, 
mais interior que o meu íntimo 
e, contudo, inatingível e desconhecido, 
ultrapassando todo o nome: 
Espírito Santo - Amor eterno! 

(Edith Stein - "Cartas a Deus, as mais belas orações cristãs" - Philippe Capelle)


quarta-feira, 7 de novembro de 2018

São Francisco renuncia a tudo para seguir Cristo...

O pai de Francisco queria que ele comparecesse perante o bispo para renunciar a todos os seus direitos de herdeiro, e que lhe restituísse o que ainda possuía. Como verdadeiro amante da pobreza, Francisco prestou-se de boa vontade à cerimônia, apresentou-se no tribunal do bispo e, sem esperar um momento nem hesitar sobre fosse o que fosse, sem esperar por uma ordem nem pedir qualquer explicação, despiu todas as suas roupas e entregou-as a seu pai. [...] A seguir, cheio de fervor e levado pela embriaguez espiritual, descalçou os sapatos e, completamente nu perante a assistência, declarou a seu pai: «Até agora chamei-te pai na Terra; doravante poderei dizer com segurança: "Pai Nosso que estais no Céu", pois foi a Ele que confiei o meu tesouro e entreguei a minha fé».
O bispo, homem santo e muito digno, chorava de admiração ao ver os excessos a que o levava o seu amor a Deus; levantou-se, tomou o jovem nos braços, cobriu-o com o seu manto e mandou buscar alguma coisa para lhe vestir. Trouxeram-lhe um pobre manto de burel de um camponês que estava ao serviço do bispo. Francisco recebeu-o com gratidão e, apanhando em seguida do chão um pedaço de giz, traçou nele uma cruz: a veste significava este homem crucificado, este pobre meio despido. Foi assim que o servidor do Grande Rei ficou nu para caminhar atrás do seu Senhor, pregado à cruz na sua nudez.

São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja
(A Vida de São Francisco, Legenda major, cap. 2)


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O silêncio que fala...

«Um dia, Teófilo, bispo de Alexandria, foi a um mosteiro do deserto. Os monges celebraram-no e todos tiveram algo a dizer-lhe. Somente o Abbá Pambone ficou em silêncio. Então os irmãos disseram-lhe: "Vem, diz alguma coisa ao nosso pastor para que a sua alma possa apreciá-la!". Pambone respondeu: "Se o meu silêncio não lhe diz nada, nem mesmo as palavras podem ajudá-lo".»
Sobre o ficar calado há dois provérbios opostos. Um afirma que «quem cala consente» e o outro declara que «quem cala não diz nada». Ambos contêm uma alma de verdade porque o silêncio é pela sua natureza ambíguo: muitas vezes é apenas taciturnidade indiferente ou desprovido de pensamentos, inércia mental e moral.
No entanto, também sabemos que há silêncios que são mais eloquentes do de uma palavra gritada. É isto que se quer sublinhar num dos muitos apólogos (de variadas recolhas) dos chamados "Padres do deserto" egípcios. Para colher a mensagem de um homem autenticamente silencioso, para intuir a sua censura, é preciso ser-se capaz de silêncio.
Aquele bispo deixava-se seduzir pelas aclamações dos monges, pelas suas palavras corteses e talvez pelas adulações. Abbá (ou seja, "pai" e mestre) Pambone não se junta ao coro e imediatamente – querendo ou não querendo – aquele silêncio torna-se mais forte do que o falatório.
Há, portanto, que aprender também o verdadeiro calar, longe de ser fácil quando se quer fazer notar pelos outros, especialmente os poderosos de plantão. O salmista faz este propósito: «Vigiarei sobre a minha conduta para não pecar com a minha língua; colocarei um freio na minha boca!» (39, 2). Um exercício importante mas difícil, porque «os homens – dizia o filósofo Espinoza – não governam nada com maior dificuldade do que a língua».

P. (Card.) Gianfranco Ravasi in "Avvenire"
Tradução do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura 
 

sábado, 22 de setembro de 2018

“Que fazes da tua vida?”

Senhor, deste-me duas mãos, uma cabeça, um coração.
Plantaste-me neste século, neste país, nesta cidade.
Mil circunstâncias diversas determinam o cenário da minha vida 
desde os genes recebidos dos meus pais até à brisa demasiado fria desta manhã.
E eu pretendo às vezes ser só o joguete da fatalidade.
Mas eis que Tu me perguntas: - “Que fizeste da tua vida?”
Que fiz eu dos talentos recebidos?
Tenho que agarrar a vida ou fugir dela, de a suportar ou de assumir.
Ajuda-me a tornar-me um servidor verdadeiro, um servidor bom e fiel. Ámen.

(André Beauchamp) 

 

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Invoca Deus, sorri... e recomeça!

«Não desistas nunca,  
nem quando o cansaço se fizer sentir,
nem quando os teus pés tropeçarem,
nem quando os teus esforços forem ignorados,
nem quando o erro te abater,
nem quando a traição te ferir,
nem quando a fadiga te prostrar,
nem quando o sucesso te abandonar,
nem quando tudo tiver o aspeto do nada,
nem quando a fragilidade te esmagar.
Invoca Deus, sorri ...
E recomeça!»

                                           S. Leão Magno

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Impressão das chagas de São Francisco de Assis

No ano de 1224, São Francisco de Assis resolveu passar a Quaresma em solidão e no jejum, afastado de todos os cuidados doo governo da sua Ordem. Escolheu um lugar solitário, o monte Alverne, onde tinha um pequeno convento, acompanhado apenas do irmão Frei Leão.
Uma manhã, pela Festa da Exaltação da Santa Cruz, estando em oração, quis Deus conceder-lhe uma graça muito singular: a impressão das chagas que foram abertas no Corpo de Jesus Cristo quando O pregaram na cruz depois de crucificado. Os pés, as mãos e o peito de São Francisco ficaram abertos e escorrendo sangue como se lhe tivessem sido cravados com pregos e perfurado com uma lança.
Ficou muito aflito o santo, vendo que lhe seria impossível esconder tão visível manifestação da amizade de Deus, mas tranquilizaram-no os frades seus irmãos, que de facto tiveram logo conhecimento, dizendo-lhe que os benefícios que Deus lhe concedia não deviam ser só para ele, mas também para os outros. Ocultava o santo os seus estigmas o mais que podia, mas o próprio Deus manifestou a realidade deles por vários milagres.
Para recordar tão grande favor instituiu a Igreja a Festa da Impressão das Chagas de São Francisco no dia 17 de Setembro de cada ano.

(Festas e vida dos Santos – P. J. Lourenço O.P.)


Ó São Francisco, estigmatizado do Monte Alverne,
o mundo tem saudades de ti como imagem de Jesus Crucificado.
Tem necessidade do teu coração aberto para Deus e para o homem,
dos teus pés descalços e feridos,
das tuas mãos trespassadas e implorantes.
Tem saudades da tua voz fraca, mas forte pelo Evangelho.
Ajuda, Francisco, os homens de hoje a reconhecerem
o mal do pecado e a procurarem a purificação da penitência.
Ajuda-os a libertarem-se das próprias estruturas de pecado,
que oprimem a sociedade hodierna.
Reaviva na consciência dos governantes a urgência da paz
nas Nações e entre os povos.
Infunde nos jovens o teu vigor de vida, capaz de fazer frente
às insídias das múltiplas culturas da morte.
Aos ofendidos por toda espécie de maldade,
comunica, Francisco, a tua alegria de saber perdoar.
A todos os crucificados pelo sofrimento, pela fome e
pela guerra, reabre as portas da esperança.
Amém.

(São João Paulo II) 

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Que eu não esqueça o essencial: Parar junto de Ti, Senhor!

Eis-me diante de Ti, Senhor,
 na verdade do que sou, na pobreza do que tenho,
no esforço constante de ser o que Tu queres! 

Fica comigo, Senhor,
hoje e sempre
nas horas de exaltação e de dor,
nas horas de luz e de sombra,
em todo o tempo, em cada instante! 

Em Tuas mãos, Senhor, 
entrego o meu amanhã confiante!

Ensina-me, Senhor, a parar para Te escutar
e Te agradecer!... 
Faz que no corre corre da vida eu não esqueça o essencial: 
Parar junto de Ti!

(Irmã Maria Amélia Costa, FHIC)

 

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Protege a nossa vida nos teus braços, ó Mãe!

Bem-aventurada Maria Virgem de Fátima,
com renovada gratidão pela tua presença materna
unimos a nossa voz àquela de todas as gerações
que te chamam bem-aventurada.
Celebramos em ti as grandes obras de Deus,
que jamais se cansa de prostrar-se com misericórdia
sobre a humanidade, afligida pelo mal e ferida pelo pecado,
para curá-la e para salvá-la.
Acolhe com benevolência de Mãe
  o ato de consagração que hoje fazemos
com confiança, diante desta tua imagem tão querida a nós.
Estamos certos de que cada um de nós
é precioso aos teus olhos e que nada é a ti estranho
de tudo aquilo que habita em nossos corações.
Deixamo-nos alcançar pelo teu dulcíssimo olhar
e recebemos o afago consolador do teu sorriso.
Protege a nossa vida nos teus braços:
abençoa e reforça todo desejo de bem;
reaviva e alimenta a fé;
ampara e ilumina a esperança;
suscita e anima a caridade;
guia todos nós no caminho da santidade.
Ensina-nos o teu mesmo amor de predileção
pelos pequenos e pelos pobres,
pelos excluídos e pelos sofredores,
pelos pecadores e pelos dispersos de coração:
reúne a todos sob a tua proteção
e entrega-os ao teu Filho amado, o Senhor nosso, Jesus. Amém.
(Consagração do Mundo a Nossa Senhora de Fátima pelo Papa Francisco -
13 de Outubro de 2013) 

domingo, 19 de agosto de 2018

Afasta do teu coração o que o perturba, e encontrarás Deus!

Não possuímos as virtudes, não por ser difícil, mas porque não queremos.
Não temos paciência porque não queremos. 
Não temos temperança porque não queremos. 
Não temos castidade pela mesma razão. 
Se quiséssemos, seríamos santos, e é muito mais difícil ser engenheiro do que ser santo. 
Se tivéssemos fé! […]
Vida interior, vida espiritual, vida de oração: meu Deus, que difícil que isso deve ser! 
De modo nenhum. Afasta do teu coração o que o perturba, e encontrarás Deus.
Com isso, o trabalho está feito. Muitas vezes buscamos o que não existe e, pelo contrário, passamos ao lado de um tesouro que não vemos. É a mesma coisa com Deus, a quem procuramos […] num emaranhado de coisas, que quanto mais complicado, melhor nos parece. 
No entanto, levamos Deus dentro de nós, e não O procuramos aí! Recolhe-te dentro de ti mesmo; olha para o teu nada; olha para o nada do mundo; põe-te ao pé de uma cruz e, se fores simples, verás Deus. […] 
Se Deus não está na nossa alma, é porque não queremos. Temos uma tal acumulação de cuidados, de distracções, de tendências, de desejos, de vaidades, de presunções, temos tantas pessoas dentro nós, que Deus Se afasta. Assim que o quisermos, Deus enche-nos a alma de tal modo, que é preciso sermos cegos para não O vermos.
Uma alma quer viver de acordo com Deus? Afaste tudo o que não é Ele, e está feito. É relativamente fácil.
Se o quiséssemos, se o pedíssemos a Deus com simplicidade, faríamos um grande progresso na vida espiritual. Se quiséssemos, seríamos santos, mas somos tão tolos que não queremos; preferimos perder tempo em vaidades estúpidas.

São Rafael Arnaiz Barón (1911-1938), monge trapista espanhol 
Escritos espirituais, 25/01/1937