terça-feira, 7 de junho de 2016

«A alegria e a bondade do coração.»

Um dia perguntei a um jovem qual era, a seu ver, o sustento essencial da sua vida. Ele respondeu: «A alegria e a bondade do coração.» 
A inquietação, o medo de sofrer, podem afastar a alegria. 
Quando surge em nós a alegria colhida do Evangelho, esta traz um sopro de vida. 
Não somos nós que criamos essa alegria. Ela é dom do Espírito Santo. É incessantemente renovada pelo olhar de confiança de Deus sobre as nossas vidas. 
Longe de ser ingénua, a bondade de coração supõe zelo, vigilância. Pode levar-nos a assumir riscos. E não dá qualquer espaço ao desprezo pelo outro. 
Torna-nos atentos aos mais desfavorecidos, aos que sofrem, à infelicidade das crianças. Ela sabe exprimir através do rosto, do tom de voz, que todos os seres humanos precisam de ser amados. 
Durante uma visita a Taizé, o filósofo Paul Ricoeur dizia: 
«A bondade é mais profunda que o mais profundo dos males. Por mais radical que seja o mal, ele nunca é tão profundo como a bondade.»
Sim, Deus permite-nos caminhar com uma centelha de bondade no fundo da alma, uma centelha que quer transformar-se numa labareda. 
A minha mãe é para mim um testemunho vivo da alegria e bondade do coração. Tinha aprendido em criança a ser benevolente com todos: na sua família, recusavam-se a denegrir a imagem dos outros com palavras que os ridicularizassem ou que formulassem juízos severos. 
Ela transmitia uma confiança total aos seus próprios filhos. Ao longo da vida, mesmo quando as provações nos fazem questionar a nós mesmos, nos fazem tomar consciência dos nossos limites, esse dom extraordinário permanece: «Podes ter confiança em ti». Era o que a minha mãe procurava transmitir a cada um dos seus nove filhos. 
Ela irradiava uma paz enorme e isso vinha-lhe das provações por que tinha passado. Quando confrontada com uma situação difícil, esperava alguns instantes para que a tranquilidade voltasse e, depois, mudava de assunto, como se nada tivesse acontecido. Nela não havia atitudes exaltadas, mas uma alegria profunda. Parecida conservar uma plenitude de paz. No entanto, disse-me algumas vezes: «Vocês pensam que, dentro de mim, há paz interior permanente, quando, na realidade, há uma luta profunda.»

(Irmão Roger de Taizé no livro "Não pressentes a felicidade?") 

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