quinta-feira, 9 de junho de 2016

"Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas" - S. Francisco de Assis

Todos nos encantamos com o famoso "Cântico das Criaturas", mas talvez nem todos saibamos que ele foi composto por Francisco de Assis num momento de grande sofrimento. Isso só faz aumentar mais o mérito de Francisco, mostrando-nos a sua grandeza de alma e a sua espiritualidade. Desafia-nos, também, a sermos alegres no Senhor, mesmo quando à nossa volta, tudo pareça dizer o contrário. 
Na época, Francisco já sofria de dores atrozes nos olhos, impedindo-o, quase, de dormir ou descansar. Sofria também do estômago, de uma úlcera gástrica; de ânsias de vómito, de um tumor ósseo, somado às dores oriundas dos Estigmas...
Nestas circunstâncias, ele teria tudo para alimentar autopiedade, para murmurar dia e noite, para cobrar uma intervenção divina, para afundar em depressão... Francisco, porém, encontrou ânimo, inspiração para escrever o seu mais belo poema ao Senhor: 
- Quero compor um novo louvor ao Senhor pelas suas criaturas, para minha consolação, e para a edificação do próximo. 
Assim era a alegria de Francisco. Mesmo atormentado pela dor, soube entoar louvores a Deus, porque a alegria de Francisco se situou além do sofrimento, da humilhação, da pobreza. Rejubilou-se no Senhor, porque só n´Ele encontrou conforto. Francisco nunca deixava que a dor e o desconforto fossem maiores do que o seu amor ao Criador. Encontrava forças para pensar na beleza de tudo o que Deus criara. Deixou transbordar o coração de poeta num ardoroso e apaixonado canto ao Criador, à luz, à alegria, à festa da vida, à harmonia do Universo... Ei-lo: 

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, 
Teus são o louvor, a glória, a honra 
e toda a bênção. 
Só a ti, Altíssimo, são devidos; 
E homem algum é digno 
de te mencionar. 

Louvado sejas, meu Senhor
Com todas as tuas criaturas.
Especialmente o senhor irmão Sol
Que clareia o dia
E com sua luz nos ilumina
E ele é belo e radiante,
Com grande esplendor:
De ti, Altíssimo, é a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Lua e as Estrelas
Que no céu formastes claras
E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor
Pelo irmão Vento.
Pelo ar, nublado
Ou sereno, e todo o tempo
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.


Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Água
Que é muito útil e humilde
E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor
Pelo irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite
E ele é belo e jovial
E vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor
Por nossa irmã, a mãe Terra
Que nos sustenta e governa
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.
Bem aventurados os que sustentam a paz,
Que por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes á tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade. 
Como podemos perceber, o amor de Francisco por todas as criaturas não se baseia num romantismo ou sentimentalismo. É um amor profundo que nasce em Deus e o conduz até Deus. No esplendor do sol, existe a beleza de Deus; na água, existe a bondade de Deus; no fogo, existe a alegria de Deus e Jesus luz do mundo; na terra, existe a Providência de Deus; e na morte, Francisco reconhece e exalta a vida de Deus. 

(Frei Jorge E. Hartmann, OFM - "Francisco, o irmão sempre alegre")



Sem comentários:

Enviar um comentário