sexta-feira, 17 de junho de 2016

Se Cristo, amanhã, bater à tua porta, reconhecê-Lo-ás?...

Será, como outrora, um homem pobre,
um homem só, certamente.
Será provavelmente um operário,
um desempregado, talvez,
ou mesmo, se a greve é justa, um grevista.
Ou, melhor ainda, será um angariador
de apólices de seguro, 
ou venderá aspiradores…

Subirá escadas e mais escadas,
deter-se-á, tempo infindo, nos patamares
com um sorriso maravilhoso
no seu rosto triste…
Mas a tua porta é tão sombria…

De resto, 
ninguém repara 
no sorriso das pessoas
que não quer receber
“Não estou interessado”,
dirás antes de o ouvires.

Ou então a tua criadita repetirá,
como um discurso decorado;
“A senhora tem os seus pobres”;
e fechará a porta
na cara do Pobre
que é o Salvador.  

Será talvez um refugiado,
um dos quinze milhões de refugiados
com o passaporte da ONU;
um daqueles que ninguém quer
e que vão errando,
errando neste deserto 
em que se tornou o mundo;
um daqueles que devem morrer
“porque, no fim de contas,
nem se sabe donde 
vêm as pessoas dessa laia…”
Ou melhor ainda, na América,
será um preto,
um negro, como eles dizem,
cansado de mendigar um lugar nas pensões
de Nova Iorque,
como outrora, em Belém,
a Virgem Nossa Senhora…

Se Cristo, amanhã, bater à tua porta reconhecê-Lo-ás?

Tem um ar acabrunhado,
extenuado,
oprimido como está
por ter de arcar com todas 
as penas do mundo…
Vamos lá!... Não se dá trabalho
a um homem tão cansado…

E depois, se se lhe pergunta:
“Que sabes fazer?”
não pode responder: “tudo”;
“Donde vens?”,
não pode responder: “de toda a parte”,
“O que queres ganhar?;
não pode responder: “a ti”.

E Ele partirá, então,
mais abatido, mais derrotado,
com a Paz nas suas mãos nuas…

(Raul Follereau)

Cristo bate hoje à tua porta, na pessoa de cada colega teu,
em todos aqueles que vais encontrar neste dia…
E tu? Vais deixá-Lo à porta?
Vais deixá-Lo triste e abatido porque O não quiseste ajudar? 

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