A misericórdia de
Deus é muito concreta, e todos somos chamados a fazer experiência dela
pessoalmente.
Quando tinha dezassete anos, num dia em que devia sair com os
meus amigos, decidi passar antes pela igreja. Ali encontrei um sacerdote que me
inspirou particular confiança e senti o desejo de abrir o meu coração na
Confissão. Aquele encontro mudou a minha vida. Descobri que, quando abrimos o
coração com humildade e transparência, podemos contemplar de forma muito
concreta a misericórdia de Deus. Tive a certeza de que Deus, na pessoa daquele
sacerdote, já estava à minha espera, ainda antes que desse o primeiro passo
para ir à igreja.
Nós procuramo-Lo, mas Ele antecipa-Se-nos sempre, desde
sempre nos procura e encontra-nos primeiro. Talvez algum de vós sinta um peso
no coração e pense: Fiz isto, fiz aquilo… Não temais! Ele espera-vos. É pai;
sempre nos espera. Como é belo encontrar no sacramento da Reconciliação o
abraço misericordioso do Pai, descobrir o confessionário como o lugar da
Misericórdia, deixar-nos tocar por este amor misericordioso do Senhor que nos
perdoa sempre!
E tu, caro jovem, cara jovem, já alguma vez sentiste pousar
sobre ti este olhar de amor infinito que, para além de todos os teus pecados,
limitações e fracassos, continua a confiar em ti e a olhar com esperança para a
tua vida? Estás consciente do valor que tens diante de um Deus que, por amor,
te deu tudo? Como nos ensina São Paulo, assim «Deus demonstra o seu amor para
connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós»(Rm 5,
8). Mas compreendemos verdadeiramente a força destas palavras?
Sei
como todos vós amais a cruz das JMJ’s – dom de São João Paulo II – que, desde
1984, acompanha todos os vossos Encontros Mundiais. Na vida de inúmeros jovens,
quantas mudanças – verdadeiras e próprias conversões – brotaram do encontro com
esta cruz singela! Talvez vos tenhais posto a questão: donde vem esta força
extraordinária da cruz?
Aqui tendes a resposta: a cruz é o sinal mais eloquente
da misericórdia de Deus. Atesta-nos que a medida do amor de Deus pela
humanidade é amar sem medida. Na cruz, podemos tocar a misericórdia de Deus e
deixar-nos tocar pela sua própria misericórdia. Gostaria aqui de lembrar o
episódio dos dois malfeitores crucificados ao lado de Jesus: um deles é
presunçoso, não se reconhece pecador, insulta o Senhor. O outro, ao contrário,
reconhece ter errado, volta-se para o Senhor e diz-Lhe: «Jesus, lembra-Te de
mim, quando estiveres no teu Reino». Jesus fixa-o com infinita misericórdia e
responde-lhe: «Hoje estarás comigo no Paraíso»(cf. Lc 23,
32.39-43).
Com qual dos dois nos identificamos? Com aquele que é presunçoso e
não reconhece os próprios erros? Ou com o outro, que se reconhece necessitado
da misericórdia divina e implora-a de todo o coração? No Senhor, que deu a sua
vida por nós na cruz, encontraremos sempre o amor incondicional que reconhece a
nossa vida como um bem e sempre nos dá a possibilidade de recomeçar.
(da Mensagem do Papa Francisco para a XXXI Jornada Mundial da Juventude - 2016)
Sem comentários:
Enviar um comentário