sábado, 30 de dezembro de 2017

Agradecer o que não nos dão...

O mais comum é agradecer o que nos foi dado. E não nos faltam motivos de gratidão. Há, é claro, imensas coisas que dependem do nosso esforço e engenho, coisas que fomos capazes de conquistar ao longo do tempo, contrariando mesmo o que seria previsível, ou que nos surgiram ao fim de um laborioso e solitário processo. Mas isso em nada apaga o essencial: as nossas vidas são um recetáculo do dom.
Por pura dádiva recebemos o bem mais precioso, a própria existência, e do mesmo modo gratuito fizemos e fazemos a experiência de que somos protegidos, cuidados, acolhidos e amados. Se tivéssemos de fazer a listagem daquilo que recebemos dos outros (e é pena que esse exercício não nos seja mais habitual), perceberíamos o que a poetisa Adília Lopes repete como sendo a sua verdade: «sou uma obra dos outros». Todos somos.
A nossa história começou antes de nós e persistirá depois. Somos o resultado de uma cadeia inumerável de encontros, de gestos, boas vontades, sementeiras, afagos, afetos. Colhemos inspiração e sentido de vidas que não são nossas, mas que se inclinam pacientemente para nós, iluminando-nos, fundando-nos na confiança. Esse movimento, sabemo-lo bem, não tem preço, nem se compra em parte alguma: só se efetiva através do dom.
Por isso é que quando ele falta a sua ausência indelével faz-se sentir a vida inteira. O seu lugar não consegue ser preenchido, mesmo se abunda uma poderosa indústria de ficções de todo o tipo com a inútil pretensão de ser oblívio e substituição para essa espécie de fala geológica que nos morde.
Hoje, porém, dei comigo a pensar também na importância do que não nos foi dado. E a provocação chegou-me por uma amiga que confidenciou: «Gosto de agradecer a Deus tudo o que Ele me dá, e é sempre tanto que nem tenho palavras para descrever. Sinto, contudo, que lhe tenho de agradecer igualmente o que Ele não me dá, as coisas que seriam boas e que eu não tive, o que até pedi e desejei muito, mas não encontrei. O facto de não me ter sido dado obrigou-me a descobrir forças que não sabia que tinha e, de certa maneira, permitiu-se ser eu».
Isto é tão verdadeiro. Mas exige uma transformação radical da nossa atitude interior. Tornar-se adulto por dentro não é propriamente um parto imediato ou indolor. No entanto, enquanto não agradecermos a Deus, à vida ou aos outros o que não nos deram, parece que a nossa prece permanece incompleta. Podemos facilmente continuar pela vida dentro a nutrir o ressentimento pelo que não nos foi dado, a compararmo-nos e a considerarmo-nos injustiçados, a prantear a dureza daquilo que em cada estação não corresponde ao que idealizamos.
Ou podemos olhar o que não nos foi dado como a oportunidade, ainda que misteriosa, ainda que ao inverso, para entabular um caminho de aprofundamento... e de ressurreição. Foi assim que numa das horas mais sombrias do século XX; desde o interior de um campo de concentração, a escritora Etty Hillesum conseguiu, por exemplo, protagonizar uma das mais admiráveis aventuras espirituais da contemporaneidade. No seu diário deixou escrito:
«A grandeza do ser humano, a sua verdadeira riqueza, não está naquilo que se vê, mas naquilo que traz no coração. A grandeza do homem não lhe advém do lugar que ocupa na sociedade, nem no papel que nela desempenha, nem do seu êxito social. Tudo isso pode ser-lhe tirado de um dia para o outro. Tudo isso pode desaparecer num nada de tempo. A grandeza do homem está naquilo que lhe resta precisamente quando tudo o que lhe dava algum brilho exterior, se apaga. E que lhe resta? Os seus recursos interiores e nada mais.»
José Tolentino Mendonça
in Expresso, 18.04.2014

domingo, 24 de dezembro de 2017

"Deus quer nascer em nós porque nos ama..." (Anselm Grün)

Cristo nasceu num estábulo. C. G. Jung, para quem tal facto se reveste de um grande simbolismo, acredita que o estábulo em que Deus nasce representa cada um de nós. Não somos nem um palácio, nem uma casa nova e bem equipada, nem um quarto confortável. E cada um de nós associa o estábulo a experiências e sentimentos que lhe são muito próprios. Uma mulher contou-me que, em pequena, ao regressar da escola, ia sempre direita ao estábulo: era aí que ela se sentia em casa. O próprio cheiro do estábulo infundia lhe uma sensação de segurança e nele pressentia as suas raízes. No estábulo há animais. Trata-se pois de um lugar de vida, de nascimentos sempre repetidos e de morte: nele se encerra todo o quotidiano, com os seus altos e baixos.
As crianças sentem-se próximas dos animais; estes deixam-se acariciar, permitem que se ocupem deles e são mais pacientes do que os humanos. Ouvem o que as crianças têm para lhes dizer. E, além disso, no estábulo há sempre o mesmo calor; até mesmo no Inverno, são os animais a conservá-lo com os seus próprios corpos.
Mas o estábulo não é, de modo algum, um local de limpeza meticulosa; contém estrume, sujidades.
Há, certamente, uma limpeza contínua, mas o estrume acumula-se sempre, a cada dia que passa; é, aliás, utilizado para fertilizar os campos. Ora, tudo isto é bem a imagem do que somos no nosso interior. O nosso coração também não é puro, nem limpo, nem asséptico; acumula muita sujidade. Tudo aquilo que fomos reprimindo encontra-se nele, bem dissimulado, abaixo da superfície, e aí apodrece lentamente. Este reprime a sua agressividade; por detrás de uma fachada amigável e sorridente, encontra-se uma frieza através da qual a agressividade vai desferindo as suas flechas. Aquele reprimiu as necessidades que sentia, mas que não o deixam em paz: estão presentes, rodeiam-no e levantam-se em turbilhão sempre que o cônjuge ou os filhos exprimem livremente as deles. Um outro passa por cima de feridas da sua infância, preferindo ignorá-las; mas as feridas não se fecham. Continuam a deitar pus por debaixo do penso e este permanece continuamente sujo.
E é precisamente aí, no nosso estrume, que Deus quer nascer em nós. Não Lhe podemos oferecer um local limpo, mas tão somente o estábulo do nosso coração, com toda a sua sujidade. Tal facto é-nos deveras penoso, mas também nos liberta da ilusão de termos merecido o nascimento de Deus. Deus quer nascer em nós porque nos ama, e não porque somos dignos do seu amor.
O nascimento de Jesus enche o estábulo de luz, de uma luz suave e quente, que não ilumina de forma intensa e brutal mas que permite que as coisas sejam o que são. Perto da Criança Divina, tudo em nós tem o direito de existir; até mesmo a sujidade, o reprimido, o que foi atirado ao chão, aquilo que só merece desprezo, tudo deixa de ser insignificante. À luz de Cristo, cheio de ternura, podemos olhar tudo de frente; através de Cristo, tudo se torna digno de consideração, já que transformado pelo seu amor. Tal é a mensagem consoladora do estábulo: tudo em nós se metamorfoseia pelo simples facto de que Cristo penetra nas trevas e no caos do nosso coração.
O que faz com que a Criança Divina se sinta bem em nós, o que torna o seu leito macio e confortável, é precisamente o facto de que não houve nenhuma limpeza industrial. Perto dessa criança, pareceria estranho algo de muito perfeito. A criança necessita de uma cama bem macia, mas não de lençóis desinfectados. Assim podes, tu que me lês, acreditar com toda a confiança que, tal como és, poderás ser uma morada para Cristo, o estábulo em que Ele vem ao mundo, para ti e para todos os homens.
 
Anselm Grün

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Quero estar contigo, Maria, aqui onde tu estás!

É meio-dia, vejo a igreja aberta,
É necessário entrar.
Mãe de Jesus Cristo, não venho para orar;
Não tenho nada a oferecer, nem a rogar.
Mãe! Venho somente para te ver.
Ver-te, chorar de felicidade, saber isto:
Que sou teu filho e que tu estás aqui.
Somente um instante enquanto 
tudo se fecha.
Meio-dia!
Estar contigo, Maria, aqui onde tu estás.
Nada a dizer, olhar o teu rosto.
Deixar que o coração cante a sua língua.
Não dizer nada, mas somente cantar
porque se tem o coração muito cheio,
Como o melro que segue
a sua ideia improvisada.
Porque tu és bela, porque és imaculada,
a Senhora enfim na Graça restituída.
A criatura na sua honra primeira e no seu fim último,
Assim como és vinda de Deus na manhã do seu esplendor original.
Porque estás aqui para sempre, 
simplesmente porque és Maria, simplesmente porque existes.
Mãe de Jesus Cristo, graças vos sejam dadas!
(Paul Glaudel)

domingo, 26 de novembro de 2017

Realmente, Senhor, o Teu reinar é tão diferente do nosso!

Boa noite, Jesus!
Celebrámos este Domingo na Igreja a Solenidade em que Te aclamamos como Rei!
Ser Rei... como tantos anseiam... rodeados de poder e glória!
Mas, Senhor, hoje disseste-me que o Teu trono é a Cruz... onde deste a Tua vida por mim!
Que ser rei no Teu Reino é em primeiro lugar servir... colocar os pobres... os aflitos sempre em primeiro...
Realmente, Senhor, o Teu reinar é tão diferente do nosso! É amar sem limites, sem reservas... pondo os outros em primeiro, pois “há mais alegria em dar do que em receber”.
Obrigado, Senhor, por perceber que me amas continuamente e me pedes que seja o Teu rosto de amor perante o outro... Tua verdadeira imagem!
Obrigado, por me ensinares a ser rei como Tu és Rei!... a procurar na cruz de todos os dias a maneira de amar, servir e assim ser plenamente feliz!
Fica comigo, Senhor Jesus, meu Rei e meu Deus!


domingo, 19 de novembro de 2017

"A todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância!" (Jo 15, 4-15)

Senhor! Mais um dia que chega ao fim…
Hoje a Tua Palavra convidou-me a pôr o render os talentos que me dás!...
Uma boa oportunidade de fazer revisão de vida…
Como estou a pôr a render os talentos, os dons que me dás?
Obrigado Senhor, por fazeres caminho comigo!
Obrigado por sempre me alertares para o perigo de ficar sozinho se não colocar o que sou e o que tenho ao serviço dos meus irmãos!
Obrigado pelos testemunhos de fé e de generosidade de tantos e tantas irmãos que colocaram a sua vida ao serviço dos outros, mostrando que “há mais alegria em dar que em receber”(Act. 20,35)
Obrigado por seres Pai e sempre me chamares para o Teu Reino que é Amor!
Ajuda-me, Senhor, amanhã a recordar que só semeando é que posso colher… e que como diz o salmo “os que semeiam com lágrimas recolhem com alegria” (Salmo 126)
Quero caminhar unido a Ti Senhor!
Ajuda-me a não desviar do caminho!
Fica, Senhor, comigo esta noite e sempre!
Abençoa-me, protege-me e ilumina-me!
Ámen.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Rezar: Falar e Escutar!

Aprende-se a rezar, rezando. Não há regra, para os cristãos, de quantas vezes ao dia devem fazer oração. O Evangelho fala-nos da «obrigação de orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18, 1). «É verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação, dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo Nosso Senhor» – ouvimos no Prefácio de todas as celebrações da Eucaristia. Dar graças é uma das formas mais nobres de oração, talvez demasiado esquecida e pouco praticada. Certo é que devemos rezar todos os dias. Sirva-nos de estímulo e de critério o exemplo de Jesus e a oração do Pai-Nosso, que Ele nos ensinou.
Mais que o «quanto tempo», importa o modo como se reza. Importa que a oração seja fonte e raiz para uma relação minha mais profunda, mais viva, mais constante, com Jesus. É preciso que nos habituemos a ela, até que se torne imprescindível no nosso quotidiano. Custa a começar, mas sentimos que faz bem. É um exercício que exige esforço, mas vale a pena, porque dá frutos.
Rezar é falar com Deus. Podemos dizer-Lhe tudo, queixar-nos, protestar, insistir. Mas aprendamos também a aguardar resposta. À medida que se vai progredindo na oração, cada vez mais esta passa a consistir mais em ouvir do que em falar. Reflictamos, diante de Deus, em quanto Lhe devemos, em quanto recebemos de graça, porque Ele pensou/pensa em mim, porque é meu amigo e me ama. Ouvi-Lo, também significa recorrer mais e mais às palavras e mensagens do Evangelho, em que aprendemos a chamar a Deus nosso Pai: um Pai misericordioso, presente, atento, carinhoso. Falar com Ele e escutá-Lo, serena a nossa alma, acalma as nossas iras e impaciências, torna-nos compreensivos e disponíveis.
Se rezamos todos os dias, Deus ouve-nos; nós sentimos os efeitos da oração; os outros dar-se-ão conta de que rezar é indispensável e modifica as pessoas, para bem dos que rezam e de quem convive com elas.                                                                
(Apostolado da Oração)

sábado, 4 de novembro de 2017

"Deus ama-te tal como és!..."

"Deus ama-te apaixonadamente, tal como és. (...)
O Senhor é um Deus apaixonado por ti.
Deus é amor e não pode, não sabe, não é capaz de fazer outra coisa
senão amar-te,
gostar de ti,
querer-te bem. (...)

O Senhor ama-te porque Ele é bom,
porque é amor.
Não está à espera que tu sejas anjo ou santo para te amar.
Ele sabe que és barro, que és frágil e por isso te ama, te quer bem.
Não duvides deste amor e abre-te a Ele. (...)

Recorda o que o Senhor disse a Catarina de Sena:
«faz-te receptiva e Eu serei torrencial».
Aprende a ser receptivo,
aprende a ter um coração pobre, despojado e humilde,
e o Senhor será, em ti, torrencial,
encher-te-á, mais e sempre mais, do seu amor. (...)

Deixa Deus ser Deus,
deixa Deus amar-te, abraçar-te, beijar-te,
acariciar-te como faz o Pai do pródigo.
Não fujas, não recues, não te afastes,
não coloques obstáculos.
Deixa-te amar por Deus. (...)

Antes de pensares nos teus pecados,
contempla o amor que Deus tem por ti,
antes de olhares as tuas misérias,
descobre a ternura amorosa do teu Deus. (...)

Convence-te, cada dia sempre mais,
que Ele não é capaz de deixar de te amar. »

Dário Pedroso, s.j. , em "Sinfonias do Amor" 

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

São Miguel, combatei e rogai por nós...

São Miguel, Arcanjo do Senhor!
Protege-nos e defende-nos de todos os perigos. Sede o nosso refúgio perante o mal que nos seduz!
São Miguel, combatei e rogai por nós...
"Quem como Deus?"... pergunta-nos tu... 
Claro que a resposta é: Como Ele ninguém!
Que tu nos recordes sempre que ninguém é como Deus... que Ele é o único caminho para a felicidade.
Que só no Senhor encontremos o abrigo e a força para as dificuldades e tentações do dia-a-dia!
Tu que és o símbolo de humildade perante Deus, ajuda-nos a confiar sempre o Seu Amor!
São Miguel, rogai por nós!

sábado, 28 de outubro de 2017

"Tomai, Senhor, e recebei..." (Sto. Inácio de Loiola)

Tomai, Senhor, e recebei
toda a minha liberdade,
a minha memória,
o meu entendimento
e toda a minha vontade,
tudo o que tenho e possuo;
Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo.
Tudo é vosso, disponde de tudo,
à vossa inteira vontade.
Dai-me o vosso amor e graça,
que esta me basta.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Quero hoje encontrar-me contigo, Senhor!

Mais um dia, Senhor, chega ao fim!
É hora de me encontrar Contigo em diálogo... em Oração!
Ajuda-me, Jesus, a serenar tudo aquilo que me agita para Te escutar no silêncio que me rodeia... na Paz que me inunda!
Obrigado por mais este dia... por aqueles que encontrei no meu caminho.
Obrigado por me amares e Te revelares nos irmãos que hoje cruzaram os seus caminhos com os meus!
Obrigado, Senhor, pela vida que me deste... 
pelo meu trabalho e até pelas dificuldades que hoje tive que superar!
Fica comigo durante esta noite e sempre!
Protege-me de todo o mal... que amanhã eu seja um verdadeiro instrumento do Teu Amor!
Protege-me e guia-me sempre pelo caminho do bem e da Paz!
Obrigado, Jesus, muito obrigado!
Fica comigo, peço-Te do fundo do meu coração... porque anseio estar sempre Contigo! Amén! 
 

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Bom dia, Jesus!

Bom dia, Jesus!
Mais um dia começa e eu quero iniciá-lo por dar-Te os bons dias e agradacer-Te por me teres guardado esta noite!
Hoje quero estar atento aos teus sinais... hoje quero perceber-Te em tudo aquilo que me rodeia... hoje quero encontrar-Te e descobrir-Te nos meus irmãos!
Faz de mim um portador de esperança, alegria e Paz! 
Faz-me, hoje, testemunha do Teu Amor!
Que logo quando rever o meu dia, eu possa dizer: - Valeu a pena este dia... pois amei e fui amado!... perdoei e fui perdoado! Encontrei Deus no meu dia!
Fica comigo, Jesus, durante este dia! 
Quero caminhar Contigo!... não desistas de mim, Senhor!  Obrigado, Senhor! Bom dia, meu Deus!

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Que lindo és Tu, Senhor!

“Que lindo és Tu, Senhor! Louvo-Te, Jesus!”
Expressão tão simples mas tão rica de significado!
Lindo és Senhor porque criaste tudo para mim... porque me amas sem limites!
Não há ninguém tão bom... tão pleno de felicidade como Tu!
Anseio por Ti, Senhor! 
Ajuda-me a nunca esquecer que só Tu me podes ajudar a caminhar rumo à felicidade!
Vem, Senhor, nesta noite e envia-me o Teu Espírito de Luz e de Paz!
Quero perceber-Te no silêncio que me rodeia!
Ajuda-me a parar todos os tumultos e agitações que há em mim!
Quero que fiques comigo, esta noite e sempre!
Quero caminhar Contigo! 
Quero seguir a rota do Amor que Tu me indicas todos os dias! 
Fica comigo, Senhor!

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

"Ser santo começa nas pequenas coisas..." (Papa Francisco)

Em que consiste a vocação à santidade? 
E como pode ser concretizada? 

«A santidade é o rosto mais belo da Igreja, o rosto mais belo: é redescobrir-se em comunhão com Deus, na plenitude da sua vida e do seu amor. Compreende-se, então, que a santidade não é uma prerrogativa apenas de alguns: a santidade é um dom oferecido a todos, ninguém se exclui», diz-nos o Papa Francisco. 

Papa Francisco:
«Para se ser santo não é preciso ser bispo, padre ou religioso. Não, todos somos chamados a tornar-nos santos. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade é reservada àqueles que têm a possibilidade de se desligar das tarefas normais para se dedicarem exclusivamente à oração. Mas não é assim.»
«É precisamente vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho cristão nas ocupações de cada dia que somos chamados a tornar-nos santos. E cada um nas condições e no estado de vida em que se encontra. És consagrado, és consagrada? Sê santo vivendo com alegria a tua doação e o teu ministério. És casado? Sê santo amando e cuidando do teu marido ou da tua mulher, como Cristo fez com a Igreja. És um batizado não casado? Sê santo cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho e oferecendo tempo ao serviço dos irmãos.»
«“Mas, padre, eu trabalho numa fábrica... Eu trabalho como contabilista, sempre com os números, mas aí não se pode ser santo...”. Sim, pode-se! Onde tu trabalhas podes tornar-te santo. Deus dá-te a graça de te tornares santo.»
«És pai ou avô? Sê santo ensinando com paixão aos filhos ou aos netos a conhecer e a seguir Jesus. E isto exige tanta paciência, para ser um bom pai, um bom avô, uma boa mãe, uma boa avó, exige-se tanta paciência, e nesta paciência acontece a santidade: exercitando a paciência.»
«És catequista, educador ou voluntário?» Sê santo tornando-te sinal visível do amor de Deus e da sua presença junto a nós. Cada estado de vida leva à santidade, sempre. Na tua casa, na estrada, no trabalho, na Igreja, nesse momento e com o estado de vida que tu tens está aberto o caminho para a santidade.»
«Não te desencorajes de percorrer este caminho. É o próprio Deus que te dá a graça. E isto é a única coisa que pede o Senhor, é que nós estejamos em comunhão com Ele e ao serviço dos irmãos.»
«Cada um de nós pode fazer um exame de consciência (...): como respondemos até agora ao chamamento do Senhor à santidade? Tenho a vontade de me tornar um pouco melhor, de ser mais cristão, mais cristã? Esta é a estrada da santidade.»
«Quando o Senhor nos convida a tornarmo-nos santos, não nos chama a algo de pesado, de triste... Pelo contrário! É o convite a partilhar a sua alegria, a viver e a oferecer com alegria cada momento da nossa vida, tornando-a ao mesmo tempo um dom de amor para as pessoas que estão junto a nós. Se compreendemos isto, tudo muda e adquire um significado novo, um significado belo, um significado a começar pelas pequenas coisas de cada dia.»
«Uma senhora vai ao mercado para fazer as compras e encontra uma vizinha, e começam a falar, e depois vêm os mexericos, e esta senhora diz: “Não, não, não, não posso dizer mal de ninguém.” Esse é um passo para a santidade, ajuda-te a tornar-te mais santo. Depois, em tua casa, o teu filho pede-te para falar um pouco das suas fantasias: “Oh, estou tão cansado, trabalhei muito hoje...”; “mas tu adapta-te e ouve o teu filho, que precisa”. E tu ajustas-te, ouve-lo com paciência... Este é um passo para a santidade.»
«Depois acaba o dia, estamos todos cansados, mas a oração... Façamos a oração. Esse é um passo para a santidade. Depois chega o domingo e vamos à missa comungar, às vezes uma bela confissão que nos limpe um pouco. Este é um passo para a santidade. Depois, a Virgem, tão boa, tão bela, pego no terço e rezo-lhe. Este é um passo para a santidade. E muitos pequeninos passos para a santidade.»
«Depois vou pela estrada, vejo um pobre, um necessitado, paro, pergunto, dou-lhe alguma coisa, é um passo para a santidade. Pequenas coisas, são pequenos passos para a santidade. Cada passo para a santidade tornar-nos-á pessoas melhores, livres do egoísmo e do fechamento em si próprio, e abertas aos irmãos e às suas necessidades.»
«Acolhamos com alegria [o convite à santidade] e apoiemo-nos uns aos outros, porque o caminho para a santidade não se percorre sozinho, cada um por sua conta, mas percorre-se em conjunto, naquele único corpo que é a Igreja, amada e tornada santa pelo Senhor Jesus Cristo. Andemos para a frente com coragem, nesta estrada da santidade.»
 
(com base no texto de Rui Jorge Martins - publicado no site do 
Secretariado Nacional da Cultura)

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Torna-me pequeno, ó Pai!

“Aumenta a porta, Pai,
porque não posso passar.
Fizeste-a para as crianças,
e eu cresci, para meu pesar.
Se não me aumentas a porta,
torna-me pequeno, por piedade.
Volta-me a aquela idade
em que viver era sonhar”.
 
(Miguel de Unamuno)
Salvar-se, segundo Jesus, é tornar-se progressivamente criança. Para a sabedoria do mundo, isto é algo completamente estranho porque estabelece uma inversão de valores e juízos. Na vida humana, segundo as ciências psicológicas, o segredo da maturidade (salvação) está em afastar-se progressivamente da unidade materna e de qualquer tipo de simbiose, até chegar a uma completa independência e se manter de pé sem nenhum apoio.
Em troca, no programa de Jesus, dentro de uma verdadeira inversão copernicana, a salvação consiste em se tornar cada vez mais dependente, a não se manter de pé, mas sim apoiado no Outro, a não agir por sua própria iniciativa, mas sim por iniciativa do Outro e avançar progressivamente até a uma identificação quase simbiótica, até – se conseguir – deixar de ser eu mesmo e ser um com Deus porque o amor é unificante e identificante; numa palavra, viver de sua vida e de seu espírito. Esta dependência, é claro, é a suprema liberdade, como logo se verá.
“Permanecer criança é reconhecer seu próprio nada, esperar
tudo de Deus como uma criança espera tudo de seu pai; não se inquietar
por coisa alguma, não pretender fortuna…
Ser pequeno significa não atribuir a si mesmo as virtudes
que pratica, crendo-se capaz de algo, mas reconhecer
que Deus põe esse tesouro da virtude na mão da criança; mas
é sempre tesouro de Deus”.
 
(Santa Teresinha de Lisieux)
Nós estamos no centro mesmo da Revelação trazida por Jesus, a revelação do Deus Pai (Abbá). Somente se dará o Reino aos que confiam, aos que esperam, aos que se abandonam nas mãos fortes do Pai. Tudo-é-Graça. Pura Gratuidade. Tudo se recebe. Para receber, há que se abandonar. Só se abandonam os que se sentem “pouca coisa”. É necessário tornar-se pequenino, criança, “menor”.
Por si só a criança não é forte, nem virtuosa, nem segura. Mas é como o girassol que se abre ao sol todas as manhãs; de lá espera tudo, de lá recebe tudo: calor, luz, força, vida…
Tornar-se criança, viver a experiência do Abbá (querido Papai) não só na oração, mas, sobretudo, nas eventualidades da vida, vivendo confiadamente abandonados ao que disponha o Pai, e tudo isso parece coisa simples e fácil. Mas na realidade trata-se da transformação mais fantástica, de uma verdadeira revolução no velho castelo arruinado da autossuficiência, do egocentrismo e das loucuras de grandezas.
Mas, uma vez que nós nos abandonamos e nos colocamos na órbita de Deus, então se anulam todas as fronteiras e participamos da potência infinita do Pai amado, de sua eternidade e imensidade.
(extraído do livro “Mostra-me teu Rosto” de Frei Ignacio Larrañaga)

sábado, 23 de setembro de 2017

“Vinde e contemplai as obras do Senhor!"

“Vinde e contemplai as obras do Senhor, as maravilhas que Ele realizou na terra!”
(Sl. 46,8)

Contemplar, Senhor, exige silenciar o coração e a mente para perceber-Te presente em tudo o que me rodeia.
Contemplar exige saborear cada momento onde Te manifestas: nos irmãos, na natureza e em tudo o que está ao meu redor e me fala de Ti.
Ajuda-me, Senhor, a estar atento aos Teus sinais de Amor… ajuda-me a perceber-Te!
Ensina-me a serenar o coração para estar atento… para reconhecer-Te… para verdadeiramente amar-Te em tudo aquilo que me dás generosamente.  
Quero, Senhor, contemplar as mãos e os braços do irmão que se estendem para me abraçar… a sua palavra reconfortante… a vida que pulsa à minha volta através da natureza!
Ajuda-me, Senhor, a contemplar todas as Tuas maravilhas… que são tantas que não seria capaz de enumera-las!
Fica comigo, Senhor, durante este dia… pois anseio estar sempre Contigo e contemplar-Te em tudo aquilo que me dás generosamente e que são, sem dúvida, as Tuas maravilhas!
 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Eu quero deixar-me guiar por Ti, Senhor!

Eu quero deixar-me guiar por Ti, Senhor!
Preciso de fazer a Tua vontade na minha vida!
O quão difícil é confiar... abandonar-me em Ti, Senhor!
É difícil porque exige desprender-me de tudo aquilo que me prende ao mundo...
É difícil porque me obriga a sair de mim mesmo e ir ao encontro do irmão, o Teu rosto!
Ajuda-me, Senhor, a perceber que sem Ti nada... Contigo tudo!
Eu seguir-Te-ei. Senhor! Pois eu sei que o Teu Amor me sustenta... não me deixa vacilar nem desistir perante das dificuldades que vão surgindo!
A Tua Graça me basta!
Confio em Ti, Senhor, plenamente! Faz de mim o que quiseres!
Sei que só Contigo serei feliz e poderei alcançar a verdadeira Paz!
Fica comigo, Senhor!
Obrigado por me escutares e me enviares o Teu Espírito Santo, Espírito de Força e de Luz.
Obrigado, Senhor, por me amares tanto!


sábado, 16 de setembro de 2017

"..vejamos o bem que há em cada um de nós; descubramo-lo..."

"Se há coisa que sempre nos garantirá o Céu, são os atos de caridade e de generosidade com que tivermos preenchido a nossa existência. Saberemos jamais o bem que pode fazer um simples sorriso? Proclamamos que Deus acolhe, compreende, perdoa; mas somos a prova viva disso que proclamamos? Os outros detetam em nós esse acolhimento, essa compreensão e esse perdão vivos? Sejamos sinceros nas nossas relações uns com os outros; tenhamos a coragem de nos aceitar uns aos outros tal como somos. Não nos deixemos espantar nem preocupar com os nossos fracassos nem com os fracassos dos outros. Antes, vejamos o bem que há em cada um de nós; descubramo-lo, porque todos nós fomos criados à imagem de Deus.

Não nos esqueçamos de que ainda não somos santos, mas apenas nos esforçamos por sê-lo. Sejamos, pois, extremamente pacientes com os nossos pecados e com as nossas quedas. Não te sirva a língua senão para o bem dos outros, «pois a boca fala do que transborda do coração». Temos de ter alguma coisa no coração para podermos dar; aqueles cuja missão é dar têm primeiro de crescer no conhecimento de Deus."
Santa Teresa de Calcutá (1910-1997)
 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

"Hoje, apenas hoje!"

Procurarei viver pensando apenas no dia de hoje, sem querer resolver de uma só vez todos os problemas da minha vida.
Hoje, apenas hoje, terei o máximo cuidado na minha convivência: afável nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar, nem corrigir ninguém à força se não a mim mesmo.

Hoje, apenas hoje, serei feliz na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro mundo mas também já neste.

Hoje, apenas hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias sem pretender que sejam todas as circunstâncias a adaptarem-se aos meus desejos.

Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura. Assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, assim a boa leitura é necessária para a vida do espírito.

Hoje, apenas hoje, farei ao menos uma coisa que me custa fazer; e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.

Hoje, apenas hoje, farei uma boa acção, e não o direi a ninguém.

Hoje, apenas hoje, executarei um programa pormenorizado. Talvez não o cumpra perfeitamente, mas ao menos escrevê-lo-ei. E fugirei de dois males: a pressa e a indecisão.

Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente - embora as circunstâncias mostrem o contrário - que Deus se ocupa de mim como se não existisse mais ninguém no mundo.

Hoje, apenas hoje, não terei qualquer medo. De modo especial não terei medo de apreciar o que é belo e de crer na bondade.

Papa João XXIII (in “Só avança quem descansa” de Vasco Pinto Magalhães, s.j.)

domingo, 27 de agosto de 2017

Amar a Deus, ao próximo e a si mesmo... (Santo António)

Ama-te a ti mesmo tal como te criou Aquele que te amou. Despreza-te tal como te fizeste a ti mesmo. Submete-te ao que está acima de ti; despreza o que está abaixo de ti. Ama-te a ti mesmo como te amou Aquele que Se entregou por ti. Depreza-te por teres desprezado o que Deus fez e amou em ti. [...]

Queres ter Deus no teu espírito em todo o momento? Olha-te tal como Deus te fez. Não andes à procura de outro tu, não te tornes outro, diferente daquele que Deus te fez. Assim, terás Deus no teu espírito em todo o momento.    
 
(dos Sermões de Santo António de Lisboa) 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Fica, Senhor, comigo, pois preciso da Tua presença!

Fica comigo, Senhor!
Fica Senhor comigo, pois preciso da Tua presença para não Te esquecer.
Sabes quão facilmente posso-Te abandonar.
Fica Senhor comigo, porque sou fraco e preciso da tua força para não cair.
Fica Senhor comigo, porque és minha vida, e sem ti perco o fervor.
Fica Senhor comigo, porque és minha luz, e sem Ti reina a escuridão.
Fica Senhor comigo, para me mostrar Tua vontade.
Fica Senhor comigo, para que ouça Tua voz e Te siga.
Fica Senhor comigo, pois desejo amar-te e permanecer sempre em Tua companhia.
Fica Senhor comigo, se queres que Te seja fiel.
Fica Senhor comigo, porque, por mais pobre que seja minha alma, quero que se transforme num lugar de consolação para Ti, um ninho de amor.
Fica comigo, Jesus, pois se faz tarde e o dia chega ao fim; a vida passa, e a morte, o julgamento e a eternidade se aproximam. Preciso de Ti para renovar minhas energias e não parar no caminho. Está ficando tarde, a morte avança e eu tenho medo da escuridão, das tentações, da falta de fé, da cruz, das tristezas. Oh, quanto preciso de Ti, meu Jesus, nesta noite de exílio.
Fica comigo nesta noite, Jesus, pois ao longo da vida, com todos os seus perigos, eu preciso de Ti. Faz, Senhor, que te reconheça como te reconheceram teus discípulos ao partir do pão, a fim de que a Comunhão Eucarística seja a luz a dissipar a escuridão,a força a me sustentar, a única alegria do meu coração.
Fica comigo, Senhor, porque na hora da morte quero estar unido a Ti, se não pela Comunhão, ao menos pela graça e pelo amor.
Fica comigo, Jesus. 
Não peço consolações divinas, porque não as mereço, mas apenas o presente da tua presença, ah, isso sim Te suplico!
Fica Senhor comigo, pois é só a Ti que procuro Teu amor, Tua graça, Tua vontade, Teu coração, Teu Espírito, porque amo-Te, e a única recompensa que Te peço é poder amar-Te sempre mais. 
Como este amor resoluto desejo amar-Te de todo o coração enquanto estiver na terra, para continuar a amar-Te perfeitamente por toda a eternidade. 
Amém.                
(São Pio de Pietrelcina)